Páginas

sábado, 29 de setembro de 2012

Cartas Para Um Desconhecido, I


    Querido desconhecido,


  Acordei hoje mais uma vez a pensar em ti. Não me disseste que ia ser assim, disseste-me que ia ser fácil, que ia ser o melhor para os dois. Por que razão me mentiste? Isto não é o melhor para mim, eu bem o sei, sou eu quem acorda todas as manhãs com a cara marcada das noites mal dormidas. Não te vou culpar, sei que também não querias que isto fosse assim, tu acreditavas num “nós”, eu dei-te razões para acreditares em tal e no fim desiludi-te. Agora não há nenhum "nós". Agora limito-me a disfarçar as marcas deixadas pelas noites passadas a chorar e colocar um sorriso, um falso sorriso.
  Mas não era isto que eu vinha aqui fazer.
  5, 4, 3, 2… Ah, já me lembro. Vinha aqui para acabar o trabalho de Geografia.
  É verdade, começou novamente a escola ou seja começou novamente o stress fazendo com que a minha vontade de te escrever... Escrever? Não, a minha vontade era mesmo de te abraçar, mas pronto, voltando atrás, fazendo com que a minha vontade de te escrever seja enorme mas estou sem tempo, sabes bem que não gosto de deixar tudo para a última da hora e que quando começo os trabalhos a minha cabeça torna-se numa confusão imensa.
  Quando puder escrevo-te, prometo.


Com amor, Marta.

sábado, 15 de setembro de 2012

Little Love, XIII


  Não conseguia sorrir naquele momento. Sentia-se uma qualquer que acabara de “deitar fora” apenas mais um. Sentia-se fria.
  Quando finalmente chegou a casa fechou-se no seu quarto. Não queria que os pais a vissem naquele estado quando chegassem a casa.
  As lágrimas pareciam não ter fim. Pensou em ligar a Joana mas quando se preparava para marcar o seu número lembrou-se que a sua amiga iria decerto criticá-la em vez de ajudá-la e apesar de a adorar não estava com cabeça para os seus sermões sobre o amor, por isso limitou-se a puxar até à janela a cadeira que tinha em frente à sua secretária sentando-se nela simplesmente a olhar o céu enquanto sentia as suas lágrimas escorrerem ao longo do seu rosto.

...

  Há duas horas que não tinha notícias dela. Estava preocupado e com medo.
  Já havia caminhado o quarteirão todo. Dirigiu-se para o parque. Avistou Guilherme sentado num banco com o rosto envolto nas suas mãos. Certamente já teria falado com ela…
  - Olá Guilherme.
  Guilherme ergueu a cabeça pesadamente permitindo que se visse os seus olhos inchados de tanto chorar. Demorou-se a olha-lo percebendo que não o conhecia.
  - Quem és tu? Como sabes o meu nome?
  Ele lembrou-se que Guilherme nunca o vira, ele é que o vira com ela. O que estava prestes a fazer podia ser uma loucura, mas Guilherme merecia conhecer o rapaz que fizera com que ele a perdesse.
  - Eu sou o motivo para estares assim.
  Guilherme recompôs-se. Só lhe apetecia desfazer-lhe a cara, mas recordou-se que ele não tinha culpa de nada. Era impossível alguém não a amar. E se ela o escolhera, ele só teria que respeitar a sua decisão.
  - Já sei quem és, és o rapaz mais sortudo que pode existir. Não te preocupes, não lhe fiz nada, limitei-me a ouvi-la e a apoia-la. Acima de tudo só quero a sua felicidade, e se tu és a razão pela qual ela todos os dias da sua vida irá acordar com o seu lindo sorriso de orelha a orelha, então eu apoio-vos. Vai falar com ela. De certeza que ela não está bem e precisa de consolo, e visto que não é do meu, resta-me que vás já ter com ela e a comeces a fazer feliz.
  Ele ficou admirado com as palavras de Guilherme.
  - Realmente não merecias nada disto. Desculpa. – Despediu-se dele com uma palmada amigável no ombro.
  Foi a correr em direção à casa dela. Como será que estaria? Será que tinha feito algo? Só conseguia pensar em correr cada vez mais rápido com medo de chegar tarde demais.
...

  Estava prestes a levantar-se da cadeira para se deitar na cama quando o avista ao virar da esquina a correr em direção a sua casa. Desceu as escadas a correr, abriu a porta da frente e sem lhe dar sequer tempo de reagir ela abraçou-o fortemente. Sentindo necessidade de a consolar retribuiu o abraço depositando-lhe um suave beijo na testa.
  - Meu amor, desculpa. Nunca pensei que por me amares fosses derramar tantas lágrimas.
  Ela olhou-o bem nos olhos.
  - Cada lágrima que me vês chorar por te amar transformar-se-á no dobro dos sorrisos que terei por tu me amares.
  E sem pensar em mais nada finalmente beijou-o sem sentir qualquer culpa por ambos se amarem.

"(...) abraçou-o fortemente. (...) sem sentir qualquer culpa por ambos se amarem."

sábado, 1 de setembro de 2012

Little Love, XII


  - Tem calma! Que se passa meu amor, porque choras? – Guilherme encontrava-se agora no parque frente a frente com ela.
  Estava bastante nervosa. Não tinha preparado nada para lhe dizer, não sabia como iria explicar o que se passara entre ela e ele.
  - Tenho de te contar uma coisa.
  - Diz linda, sabes que podes contar-me tudo. – Aproximou-se para a abraçar.
  Ela recuou mais rápido do que o que queria. Guilherme, franzindo a testa, pegou-a pela mão e sentou-a a seu lado no banco nunca largando-a.
  Sentindo o coração bater cada vez mais rápido sentia-se quase incapaz de respirar.
  Olhou-o nos olhos. Como tinha sido capaz de chegar a este ponto? Como tinha sido capaz de beijar ele estando com Guilherme?
  - Desculpa. Desculpa-me a sério. Eu gosto imenso de ti, não quero que duvides disso.
  - O que estás para ai a dizer? Estás a deixar-me seriamente preocupado.
  Limpando as lágrimas inspirou profundamente o perfume de Guilherme e finalmente ganhou coragem para lhe contar o que se passara, e o que ia acontecer.
  - Guilherme, eu amo outro rapaz. Lembras-te de eu te falar vezes sem conta dele? Pois bem, é ele quem eu amo. Foi sempre ele quem me fez mais feliz apesar de ser também o responsável por todo o meu sofrimento. Foi sempre ele o rapaz que me deixa louca de cada vez que prenuncia o meu nome. Já reparaste como o simples facto de ele dizer o meu nome me deixa maluca? Só de pensar nele, na sua voz, nos seus olhos, no seu cabelo, nos seus lábios, no seu sorriso… Ele é tudo para mim.
  Guilherme não acreditava no que estava a ouvir. Como podia a rapariga que ele mais amara fazer-lhe algo assim. A rapariga a que entregara todo o seu amor e a sua confiança. A rapariga que ele sempre protegera.
  - Eu estive com ele hoje. Fui falar com ele, tive que ir falar com ele. Beijamo-nos. Percebi que não posso continuar a enganar-me a mim mesma nem a ti. A verdade é que eu quero-o mais que tudo no mundo. Não peço nem que compreendas nem que me perdoes pois ninguém merece isto, muito menos tu que sempre fizeste de tudo para eu ser feliz. Agora podes chamar-me o que quiseres, eu mereço, mas lembra-te que nunca quis que isto fosse assim.
  Calou-se. Deu-lhe tempo para ele puder absorver toda aquela informação. Guilherme não merecia nada daquilo, mas não podia ser enganado.
  Engolindo em seco preparou-se para lhe responder.
  - Não te vou chamar nenhum dos quinhentos nomes horríveis porque tu não és nada disso. A ti só tenho que te agradecer. Ensinaste-me a amar e agora ensinaste-me também a sofrer. – Começava a sentir os olhos húmidos. – Como eu já te disse várias vezes, quero a tua felicidade, e se és feliz ao lado dele, então força, quem sou eu para te impedir? Não quero que estejas comigo não me amando. E eu não seria capaz de impedir o vosso amor. Peço-te que vás agora embora por favor. Quando me sentir pronto falarei melhor contigo. Amo-te muito, nada disso mudou.
  Respeitando o que ele lhe pedira preparava-se para partir. Chegando-se perto dele para lhe beijar o rosto, hesitou e recuou, relembrando-se que talvez não fosse a melhor ideia. Apertando-lhe a mão em sinal de despedida, partiu, deixando para trás um homem em lágrimas que aprendeu que amar é também sofrer.

"(...) deixando para trás um homem em lágrimas que aprendeu que amar é também sofrer."