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domingo, 8 de dezembro de 2013

X Miles Away, II

  A esperança começa a desvanecer-se.
  Olho à minha volta e tudo parece nublado e incerto. Vejo tudo desfocado devido às lágrimas que não param de cair há já uma semana. Era óbvio que não iria ser fácil, eu estava mentalizada disso, mas pensava que não fosse assim tão difícil visto que a culpa de tudo isto era de Filipe e só de Filipe.
  Dou um salto assim que ouço o telemóvel tocar e só aí percebo o quão perdida estava nos meus pensamentos. Corro para ele.
  - Estou?
  - Então linda, estás melhor?
  - Para dizer a verdade, não, não estou…
  - Sabes do que estás a precisar? De ir às compras! Estou em tua casa dentro de 15 minutos.
  - Mas Helena, não que…
  Desligou.
  Desde que eu e Filipe termináramos Helena tem-me ligado todos os dias, sem exceção, e por mais vezes que eu lhe diga que está a ser uma chata, Helena nunca desiste de me tentar animar pois ela bem sabe que o digo apenas por brincadeira.
  Decidi alinhar na ida ao centro comercial, decerto que mal não faria. Vesti rapidamente um vestido, penteei-me, lavei a cara e os dentes e saí.
  - Então sua maluca, ainda não tiras-te o outro da cabeça?
  - Até parece que é fácil…
  - Amiga, não gosto que estejas assim, por isso sim, tem que ser fácil!
  - Agora não importa, vamos andando antes que mude de ideias.
  Apanhámos o autocarro. Fomos toda a viagem a rir e a fazer palhaçadas, e por momentos senti que nada se havia passado. É então, no momento em que entramos no centro comercial, que tudo volta a estar como estava.
  - Olá Maria…
  FILIPE? AQUI? HOJE? Mas ele nunca cá vem, porque teria de vir logo hoje?
  - Como és capaz de lhe dirigir a palavra? Sinceramente não sei, és tão ridículo.
  - Calma Helena, acho que não cheguei a falar contigo.
  - Nem eu quero que fales, seu tarado!
  - HELENA! Obrigada por tentares animar-me mas de nada serviu como podes ver. Vou-me embora, é o melhor. Filipe, se faz favor, não voltes a cumprimentar-me, em nenhuma ocasião, sim?
  Calmamente, virei-me e fui embora. Não ia chorar em frente dele, por isso tinha de me afastar o mais depressa possível.
  - Maria? – Chamou alguém algo desesperado.
  Limpando as lágrimas, olhei em redor à procura de quem me havia chamado, não querendo acreditar em quem era quando finalmente o avistei.

"Olho à minha volta e tudo parece nublado e incerto. Vejo tudo desfocado devido às lágrimas que não param de cair há já uma semana."


domingo, 15 de setembro de 2013

X Miles Away, I

  - Sabes que mais? Também não achei que durasse muito mais tempo do que o que na verdade durou. Estou fartíssima das tuas fitas e das tuas atitudes infantis!
  - Vais arrepender-te e tu sabes disso. Não passas duma criança que não sabe o que quer, e depois chamas-me a mim de infantil… Que triste que és.
  Olhei-o nos olhos sabendo que nada do que ele dizia era o que realmente sentia.
  Filipe sempre tinha sido demasiado arrogante e bruto tanto para mim como para as restantes pessoas que realmente se preocupam com ele. Mas apesar disso, sempre que podia, lembrava-nos do quanto gostava de nós.
  - Eu sei bem aquilo que quero, tu é que não aceitas a minha decisão. Esperar não custa, e se tu não sabes aguardar para que esteja pronta então não me mereces, de todo.
  - Ó por amor de Deus, mas afinal tens quantos anos? Sexo não é nenhum monstro para que  seja preciso que te estejas a preparar para “enfrentá-lo”. Se me amasses já terias avançado.
  Só me apetece chorar. Se há uma semana atrás me tivessem dito que ele seria capaz de agir desta forma apenas porque não me sinto pronta para ter relações, eu teria negado tudo com toda a certeza porque, apesar de por vezes ser um bronco, Filipe também sabia ser um querido.
  - Tens a mínima noção do que acabaste de dizer, certo? Tens a noção do quão parvo foste agora? Não tem lógica nenhuma o que disseste. - Tenho de pôr fim a esta relação que nunca deveria ter tido um começo. - Mas também já não me interessa, acabou, não quero sequer ter de te ver à minha frente. Quando aprenderes a gostar verdadeiramente duma pessoa e não pensares apenas em saltares para dentro das cuecas da tua “namorada” logo irás entender que afinal quem tinha razão era eu!
  Viro-lhe costas e vou-me embora.
  Mais uma desilusão…
  Impeço-me de chorar. Sei que, por ele, não valerá a pena derramar uma única lágrima.
  “Às vezes um relacionamento à distância nem parece má ideia, não ter de estar com o meu namorado todos os dias…” Abano a cabeça. Que estou eu a pensar? Relações virtuais? Relações a inúmeros quilómetros de distância? Que coisa mais ridícula! “Mas a verdade é que talvez não houvesse problemas destes… “ Tenho mesmo de me distrair, estes pensamentos não podem estar a vir de mim, eu que sou uma pessoa que nunca acreditou no futuro dessas relações.

"(...) eu teria negado tudo com toda a certeza porque, apesar de por vezes ser um bronco, Filipe também sabia ser um querido."



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Cartas Para Um Desconhecido, V




    Querido desconhecido,


  Faz hoje um mês que não te vejo, que ninguém te vê.
  Faz um mês que todos andamos com lágrimas nos olhos e falsos sorrisos pelas ruas enquanto tentamos levar a nossa vida para a frente, como fazíamos há um mês atrás quando tudo corria normalmente. As pessoas que não me conhecem conseguem perceber a minha tristeza, o que é estranho visto que sempre consegui esconder as minhas emoções até dos mais próximos.
  Estive bastante tempo sem te escrever, outra vez, sem te dar notícias minhas, por isso, não imaginas o meu espanto quando olhei para o telemóvel e vi que tinha uma mensagem tua a pedir que nos encontrássemos. Pensei que seria engano até ter visto que me trataste pela alcunha que tinhas arranjado para mim, e a verdade é que quando a li fiquei radiante. Mal sabia eu o que iria acontecer nos próximos dias…
  Quando nos encontrámos no local combinado a minha vontade foi a de te abraçar e nunca mais largar. Não suportava a ideia de te ver partir outra vez, e quando finalmente me abraçaste, como se fosses capaz de ler-me os pensamentos, senti que me tinha reencontrado. Depois de várias horas a conversarmos, tudo tinha voltado a ser o que era, a nossa amizade finalmente começava a fazer sentido desde o nosso último encontro. Encontramo-nos durante os 4 dias seguintes, voltámos a ser felizes juntos.
  No 5º dia, quando me despachava para ir ter contigo ao centro comercial, recebo uma chamada tua. Quando atendi não ouvi o que esperava, não te ouvi a ti a falar mas sim a um senhor que, pela voz, aparentava ter já uma idade avançada. Pediu-me que fosse rapidamente ter à avenida paralela à tua casa, e assim fiz. Depois de vários minutos passados a correr, chego à esquina da dita avenida. Vejo uma multidão a fazer um círculo à volta de algo, carros da polícia e ambulâncias estacionados muito perto da enorme quantidade de pessoas. Corri para o centro do círculo e o que vi foi a razão do meu viver estendida no chão, a sangrar da cabeça e dos membros, de olhos fechados, sem qualquer reacção ao que se passava à sua volta. Vi-te a ti. Lembro-me apenas de fechar os olhos e acordar num hospital.
  E aqui estou eu, passadas três semanas desde que acordei e me tentei mentalizar do que aconteceu e finalmente tendo coragem para me despedir de ti, uma despedida diferente de todas as outras.
  A verdade é que nunca conseguirei perceber o porquê de o senhor ter ligado para mim e não para um dos teus pais ou familiares próximos visto que não éramos mais que dois amigos. Ou será que éramos? Seremos sempre tu e eu contra o mundo, nada disto é o fim. Um dia voltaremos a reencontrar-nos, tal como sempre.
  Nunca foste nem serás um desconhecido porque eu sempre soube quem tu eras e tu sempre soubeste quem eu sou.

  P.S: Eu amo-te.




Com amor, Marta.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Cartas Para Um Desconhecido, IV



    Querido desconhecido, 


  Geralmente escrevo-te quando me sinto mal, escrevo para que me seja possível passar todas as mágoas que sinto dentro de mim, e que quase me fazem explodir, para um simples pedaço de papel.
  Realmente gosto do que faço, gosto do jeito de como no final, todas as minhas mágoas passam a ser também as mágoas das pessoas que as lêem, gosto do modo como os meus lamentos conseguem tornar-se mais agradáveis dependendo do modo como os descrevo. Sei que também tu gostas pois o que mais fazes é elogiar a minha escrita e a forma como a consigo adaptar a cada situação. Mas por que razão estou a escrever-te se me sinto bem?
  Como sabes sou uma pessoa demasiado perfeccionista, e talvez por isso me sinta muitas vezes mal, porque para me sentir bem preciso que esteja mesmo tudo bem, tudo como eu quero para que me sinta realmente satisfeita e tu sabes disso, tu sabes de tudo.
  Tenho saudades tuas, do teu abraço, do teu perfume, do teu sorriso. Tenho saudades de te ter por perto a dizer-me que tudo correrá bem, que eu sou a mulher mais forte que tu já conheceste e que por vezes também os “fortes” precisam de chorar. Talvez seja por isso que te estou a escrever… Por sentir tanto a tua falta. Pensava eu estar bem quando o que me faz melhor não está comigo. Deixei-me iludir pela falta de problemas e pela felicidade, que como já reparaste, não é real.
  Enfim, estou “destreinada”, já não consigo falar contigo tão abertamente colocando ao mesmo tempo beleza nas palavras da mesma maneira que fizera anteriormente. Já não sei como escrever, como fazer as pessoas se identificarem comigo. Talvez já não seja isso que faço de melhor... Apenas sei que estás comigo, não fisicamente, mas psicologicamente, e isso é algo que nunca esquecerei.

  Eu por ti, tu por mim. Obrigada.



Com amor, Marta.