“Quero gritar.
Quero gritar bem
alto o teu nome. Pode ser que assim voltes.
Mas eu sei que
não. Sei que por mais que eu grite não voltarás. Sei que não poderei mais
sentir o teu abraço e os teus lábios, ouvir a tua voz e as tuas gargalhadas,
ver o teu sorriso e o teu olhar. Sei que não poderei reaver nada disso. Mas
sinto-me bem a gritar por ti. Faz-me sentir que assim não te esquecerei pois
não o quero fazer. Sei que te deixei ir, por mais que o negue, sei que deixei.
Quando te vi partir, não corri atrás de ti, não tentei parar-te, não tentei
fazer com que ficasses comigo. Fiquei sem reação pensando que nada do que
estava a acontecer era a realidade, que não passava tudo de um sonho do qual
quando acordasse e olhasse para o lado te veria a partilhar o travesseiro
comigo. Nada disso aconteceu. Apercebi-me que a realidade é que te foste
embora, sem mim. Depois de todas as promessas que fizemos um ao outro, partiste
e deixaste-me aqui. Procurei-te, juro que procurei. E quando finalmente te
encontrei, vi que já me substituíras. Não te culpo. O parvo fui eu em ter-te
deixado partir. Quero que saibas apenas que sempre te quis comigo, sempre. Mas
seguiste em frente, e também terei de o fazer porque sei que é o melhor não só
para mim mas como também para ti.
Já que eu não o
consegui, espero que ele te faça feliz, pois tu merece-lo mais que ninguém.”
Quando ela acabou
de ler a carta ficou estupefacta. Seria mesmo dele?
Passara um mês
desde que estivera com Guilherme na praia. Passara um mês desde que pensara que
o esquecera de vez.
Guilherme fizera-a
feliz de todas as formas possíveis. Não a deixara quando ela mais precisara, ao
contrário dele. Como podia ser capaz de lhe escrever depois do que lhe fizera?
Pior que tudo, como podia pedir-lhe que fosse feliz sem ele? Ainda por cima nem
o havia pedido pessoalmente. Não, não iria ser assim tão simples. Ela iria
falar com ele e confrontá-lo com tudo o que tinha.
“Quer queiras quer não, vais ouvir-me até ao
fim e ainda vais ver que não fui eu que te abandonei mas sim tu que me mandaste
embora.”
"Sei que não poderei mais (...) ver o teu sorriso e o teu olhar."