Querido desconhecido,
Faz hoje um mês que não te vejo, que ninguém
te vê.
Faz um mês que todos andamos com lágrimas nos
olhos e falsos sorrisos pelas ruas enquanto tentamos levar a nossa vida para a
frente, como fazíamos há um mês atrás quando tudo corria normalmente. As
pessoas que não me conhecem conseguem perceber a minha tristeza, o que é
estranho visto que sempre consegui esconder as minhas emoções até dos mais
próximos.
Estive bastante tempo sem te escrever, outra
vez, sem te dar notícias minhas, por isso, não imaginas o meu espanto quando
olhei para o telemóvel e vi que tinha uma mensagem tua a pedir que nos
encontrássemos. Pensei que seria engano até ter visto que me trataste pela
alcunha que tinhas arranjado para mim, e a verdade é que quando a li fiquei
radiante. Mal sabia eu o que iria acontecer nos próximos dias…
Quando
nos encontrámos no local combinado a minha vontade foi a de te abraçar e nunca
mais largar. Não suportava a ideia de te ver partir outra vez, e quando
finalmente me abraçaste, como se fosses capaz de ler-me os pensamentos, senti
que me tinha reencontrado. Depois de várias horas a conversarmos, tudo tinha
voltado a ser o que era, a nossa amizade finalmente começava a fazer sentido
desde o nosso último encontro. Encontramo-nos durante os 4 dias seguintes,
voltámos a ser felizes juntos.
No 5º dia, quando me despachava para ir ter
contigo ao centro comercial, recebo uma chamada tua. Quando atendi não ouvi o
que esperava, não te ouvi a ti a falar mas sim a um senhor que, pela voz,
aparentava ter já uma idade avançada. Pediu-me que fosse rapidamente ter à
avenida paralela à tua casa, e assim fiz. Depois de vários minutos passados a
correr, chego à esquina da dita avenida. Vejo uma multidão a fazer um círculo à
volta de algo, carros da polícia e ambulâncias estacionados muito perto da
enorme quantidade de pessoas. Corri para o centro do círculo e o que vi foi a
razão do meu viver estendida no chão, a sangrar da cabeça e dos membros, de
olhos fechados, sem qualquer reacção ao que se passava à sua volta. Vi-te a ti.
Lembro-me apenas de fechar os olhos e acordar num hospital.
E aqui estou eu, passadas três semanas desde
que acordei e me tentei mentalizar do que aconteceu e finalmente tendo coragem
para me despedir de ti, uma despedida diferente de todas as outras.
A verdade é que nunca conseguirei perceber o
porquê de o senhor ter ligado para mim e não para um dos teus pais ou
familiares próximos visto que não éramos mais que dois amigos. Ou será que
éramos? Seremos sempre tu e eu contra o mundo, nada disto é o fim. Um dia
voltaremos a reencontrar-nos, tal como sempre.
Nunca foste nem serás um desconhecido porque
eu sempre soube quem tu eras e tu sempre soubeste quem eu sou.
P.S:
Eu amo-te.
Com
amor, Marta.