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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Cartas Para Um Desconhecido, V




    Querido desconhecido,


  Faz hoje um mês que não te vejo, que ninguém te vê.
  Faz um mês que todos andamos com lágrimas nos olhos e falsos sorrisos pelas ruas enquanto tentamos levar a nossa vida para a frente, como fazíamos há um mês atrás quando tudo corria normalmente. As pessoas que não me conhecem conseguem perceber a minha tristeza, o que é estranho visto que sempre consegui esconder as minhas emoções até dos mais próximos.
  Estive bastante tempo sem te escrever, outra vez, sem te dar notícias minhas, por isso, não imaginas o meu espanto quando olhei para o telemóvel e vi que tinha uma mensagem tua a pedir que nos encontrássemos. Pensei que seria engano até ter visto que me trataste pela alcunha que tinhas arranjado para mim, e a verdade é que quando a li fiquei radiante. Mal sabia eu o que iria acontecer nos próximos dias…
  Quando nos encontrámos no local combinado a minha vontade foi a de te abraçar e nunca mais largar. Não suportava a ideia de te ver partir outra vez, e quando finalmente me abraçaste, como se fosses capaz de ler-me os pensamentos, senti que me tinha reencontrado. Depois de várias horas a conversarmos, tudo tinha voltado a ser o que era, a nossa amizade finalmente começava a fazer sentido desde o nosso último encontro. Encontramo-nos durante os 4 dias seguintes, voltámos a ser felizes juntos.
  No 5º dia, quando me despachava para ir ter contigo ao centro comercial, recebo uma chamada tua. Quando atendi não ouvi o que esperava, não te ouvi a ti a falar mas sim a um senhor que, pela voz, aparentava ter já uma idade avançada. Pediu-me que fosse rapidamente ter à avenida paralela à tua casa, e assim fiz. Depois de vários minutos passados a correr, chego à esquina da dita avenida. Vejo uma multidão a fazer um círculo à volta de algo, carros da polícia e ambulâncias estacionados muito perto da enorme quantidade de pessoas. Corri para o centro do círculo e o que vi foi a razão do meu viver estendida no chão, a sangrar da cabeça e dos membros, de olhos fechados, sem qualquer reacção ao que se passava à sua volta. Vi-te a ti. Lembro-me apenas de fechar os olhos e acordar num hospital.
  E aqui estou eu, passadas três semanas desde que acordei e me tentei mentalizar do que aconteceu e finalmente tendo coragem para me despedir de ti, uma despedida diferente de todas as outras.
  A verdade é que nunca conseguirei perceber o porquê de o senhor ter ligado para mim e não para um dos teus pais ou familiares próximos visto que não éramos mais que dois amigos. Ou será que éramos? Seremos sempre tu e eu contra o mundo, nada disto é o fim. Um dia voltaremos a reencontrar-nos, tal como sempre.
  Nunca foste nem serás um desconhecido porque eu sempre soube quem tu eras e tu sempre soubeste quem eu sou.

  P.S: Eu amo-te.




Com amor, Marta.