Com o passar do tempo ele foi-se recompondo, ganhando novamente forças para reconquistá-la. Passaram-se meses desde a última vez que se haviam visto, desde a última vez que haviam falado. Ele declarara-se a ela tarde de mais ficando a pensar que ela não ouvira as suas palavras.
Era sábado de manhã. Levantara-se cedo naquele dia para que tivesse tempo para se arranjar pois era hoje que a iria procurar.
Saiu de casa. Foi em direção ao café para tomar o pequeno-almoço. Enquanto escolhia o que haveria de comer reparou numa caixa de chocolates pousada ao lado da caixa registadora.
- Desculpe, essa caixa de chocolates está à venda?
- Não, se estivesse estaria em exposição.
- Bem, é pena. – Começou a matutar no assunto. – E se eu lhe pagasse dez euros pela caixa?
- Estás bem rapaz? Esta caixa de chocolates nem seis euros foi. Se quiseres um chocolate basta pedires que eu não me importo de te dar um.
- Não, quero mesmo todos, é para oferecer a uma amiga… Uma amiga especial. – Esboçou um largo sorriso esperançoso na cara.
O senhor do café hesitou, mas ao olhar para o olhar, para o sorriso do rapaz, não foi capaz de aceitar o dinheiro.
- Toma meu rapaz, leva os chocolates e põe-te a andar.
- Obrigado meu senhor.
E foi-se embora. Não se importava de nem sequer ter comido, agora só pensava em encontra-la.
...
- Bom dia mãe.
- Bom dia meu amor, onde vais?
- Vou ao parque ter com algumas colegas, posso?
- Claro minha filha toma cuidado.
- Sim mãe.
- Claro minha filha toma cuidado.
- Sim mãe.
Dito isto, subiu as escadas a correr para se vestir e ir ter com as amigas. Hoje queria estar bonita pois uma das amigas tinha-lhe dito que viria um primo seu muito bonito visitá-la este fim-de-semana, e que se tivesse sorte poderia ser que ele se interessasse por ela. Enquanto remexia num baú com um papel a dizer “Em Caso De Emergência” (o baú apenas continha as suas melhores roupas) encontrou no bolso de uma camisa uma foto amachucada. Endireitando-a, já sabia quem se encontrava na imagem. Era ele. Demorou-se alguns instantes com a foto na mão. Pousando-a na mesa-de-cabeceira continuou à procura de uma roupa decente. Tentou não pensar mais na foto mas esta não lhe saia da cabeça. Quando finalmente escolheu a roupa que achou ser a “ideal”, desceu as escadas, novamente a correr e saiu de casa.
- Bem, mais um bocado e chegavas à hora de almoço.
- Desculpa, mas como a Joana vai trazer o primo dela e me disse que se tivesse sorte poderia ter hipóteses… Tive de me arranjar como é óbvio.
- Vá, vamos andando senão elas matam-nos.
- Sim, tens razão, vamos.
E lá foi ela. Sentia-se estranha desde que encontrara a foto dele. Não pensava nele há já algum tempo, e agora simplesmente não lhe saia da cabeça. Se tinha saudades? Sim tinha, mas o orgulho era maior e ainda não tinha sido capaz de o perdoar, de esquecer as palavras do seu último reencontro. Não conseguia esquecer o quão cretino ele tinha sido. Não conseguia esquecer a sua arrogância. Não conseguia esquecer que o amava.
"Não conseguia esquecer a sua arrogância. Não conseguia esquecer que o amava."