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domingo, 23 de dezembro de 2012

Cartas Para Um Desconhecido, III



    Querido desconhecido, 


  Preciso de ti mais do que nunca, e por mais estranho que pareça, não no sentido que estás a pensar. Não, preciso de um amigo, de um grande amigo, alguém em quem possa confiar sabendo que não me irá desiludir pois ultimamente o que mais apanho são desilusões. Por isso peço-te que gastes, não mais do que dois minutos, comigo e com os meus sempre pequenos mas grandes problemas.
  Não estou bem, como sempre. Quando penso que finalmente algo do que eu faça irá sair direito há sempre um problema, e esta vez não é exceção. Imagina tu que eu finalmente decidi seguir em frente. Pois é, a menina que tu conheces-te que não conseguia pensar noutra pessoa a não ser em ti desapareceu, ou pelo menos aparentava isso pois aqui estou eu mais uma vez a escrever para ti sem qualquer sentido nas palavras. Não te preocupes porque, pela primeira vez, o culpado de eu estar neste estado não foste tu nem nós. Comecei a falar com um rapaz, um rapaz que em tempos fora alguém na minha vida. Houve uma altura em que perdemos o contacto de tal maneira que quando recomeçamos a falar não nos lembrávamos de nada do que havia acontecido entre nós. Como a tola apaixonada que sou deixei-me ir na conversa dele. Precisava há já algum tempo de conforto, segurança e estabilidade, e ele deu-me tudo isso e muito mais, sem nada me pedir em troca. Achei estranho, mas quis arriscar. Não imaginas o quão bem ele me tratou, o carinho que me deu e a segurança que me transmitiu. As carícias dele passaram a ser a minha perdição, o seu perfume o meu aroma preferido e a sua voz a mais doce de todas e vê tu que nem precisei que ele me beijasse para que sentisse todo este misto de emoções. Pela primeira vez senti-me bem desde ti.

  E agora perguntas-te tu "Então por que estás tu mal?", e é depois de toda esta felicidade que ele me deu que surgiu algo. Sempre soube que havia alguém melhor que eu à espera da melhor oportunidade para o fazer perceber isso e essa altura acabou por chegar.
  E agora onde fico eu? Eu que era a pessoa a quem ele chamava de rainha com a maior das sinceridades e um grande orgulho? Eu que era a pessoa a quem ele pedia para ver e ouvir todas as noites? Eu, essa rapariga que conseguiu encontrar novamente um caminho para a felicidade, juntei apenas mais uma desilusão para o baralho das cartas.
  Obrigada por me escutares, obrigada por ainda estares comigo, porque apesar de tudo eu continuarei sempre contigo.


Com amor, Marta.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cartas Para Um Desconhecido, II


    Querido desconhecido,


  Passou mais de um mês desde a minha primeira carta. Desculpa príncipe, sabes que me “ocupo” com coisas que não devia e dou menos importância ao que devia dar toda a minha atenção. Eu sei que não é desculpa para ter andado tanto tempo desaparecida… Tenho de admitir que também não tive coragem de cá vir, tive medo de te falar.
  Enfim… Como estás? Eu estou bem claro, ou pelo menos é como digo estar. Se me visses saberias que não estou bem pois apesar de não parecer tu conheces-me melhor que muita gente, e mesmo sabendo isso, todos os dias tento nega-lo. Como é possível estares tão presente mesmo estando ausente? Consegues sempre que me distraia nas aulas, que o meu pensamento se centre todo em ti. Este efeito que tens sob mim deixa-me tão assustada… Assustada? Deixa-me apaixonada! Com esta idade e estou apaixonada. Isto deveria ser proibido. Estás tão lindo, pareces tão feliz. Sou tão parva em não conseguir fazer o mesmo que tu e seguir em frente, ou pelo menos fingir que o faço. Parece-me tão incorreto. Tento aproximar-me de outros rapazes e só te vejo a ti.
  Bem, a minha mãe está a chamar-me para jantar. Tinha saudades tuas, tenho saudades tuas… Continuo à tua espera.

  P.S: Eu amo-te.


Com amor, Marta.

sábado, 29 de setembro de 2012

Cartas Para Um Desconhecido, I


    Querido desconhecido,


  Acordei hoje mais uma vez a pensar em ti. Não me disseste que ia ser assim, disseste-me que ia ser fácil, que ia ser o melhor para os dois. Por que razão me mentiste? Isto não é o melhor para mim, eu bem o sei, sou eu quem acorda todas as manhãs com a cara marcada das noites mal dormidas. Não te vou culpar, sei que também não querias que isto fosse assim, tu acreditavas num “nós”, eu dei-te razões para acreditares em tal e no fim desiludi-te. Agora não há nenhum "nós". Agora limito-me a disfarçar as marcas deixadas pelas noites passadas a chorar e colocar um sorriso, um falso sorriso.
  Mas não era isto que eu vinha aqui fazer.
  5, 4, 3, 2… Ah, já me lembro. Vinha aqui para acabar o trabalho de Geografia.
  É verdade, começou novamente a escola ou seja começou novamente o stress fazendo com que a minha vontade de te escrever... Escrever? Não, a minha vontade era mesmo de te abraçar, mas pronto, voltando atrás, fazendo com que a minha vontade de te escrever seja enorme mas estou sem tempo, sabes bem que não gosto de deixar tudo para a última da hora e que quando começo os trabalhos a minha cabeça torna-se numa confusão imensa.
  Quando puder escrevo-te, prometo.


Com amor, Marta.

sábado, 15 de setembro de 2012

Little Love, XIII


  Não conseguia sorrir naquele momento. Sentia-se uma qualquer que acabara de “deitar fora” apenas mais um. Sentia-se fria.
  Quando finalmente chegou a casa fechou-se no seu quarto. Não queria que os pais a vissem naquele estado quando chegassem a casa.
  As lágrimas pareciam não ter fim. Pensou em ligar a Joana mas quando se preparava para marcar o seu número lembrou-se que a sua amiga iria decerto criticá-la em vez de ajudá-la e apesar de a adorar não estava com cabeça para os seus sermões sobre o amor, por isso limitou-se a puxar até à janela a cadeira que tinha em frente à sua secretária sentando-se nela simplesmente a olhar o céu enquanto sentia as suas lágrimas escorrerem ao longo do seu rosto.

...

  Há duas horas que não tinha notícias dela. Estava preocupado e com medo.
  Já havia caminhado o quarteirão todo. Dirigiu-se para o parque. Avistou Guilherme sentado num banco com o rosto envolto nas suas mãos. Certamente já teria falado com ela…
  - Olá Guilherme.
  Guilherme ergueu a cabeça pesadamente permitindo que se visse os seus olhos inchados de tanto chorar. Demorou-se a olha-lo percebendo que não o conhecia.
  - Quem és tu? Como sabes o meu nome?
  Ele lembrou-se que Guilherme nunca o vira, ele é que o vira com ela. O que estava prestes a fazer podia ser uma loucura, mas Guilherme merecia conhecer o rapaz que fizera com que ele a perdesse.
  - Eu sou o motivo para estares assim.
  Guilherme recompôs-se. Só lhe apetecia desfazer-lhe a cara, mas recordou-se que ele não tinha culpa de nada. Era impossível alguém não a amar. E se ela o escolhera, ele só teria que respeitar a sua decisão.
  - Já sei quem és, és o rapaz mais sortudo que pode existir. Não te preocupes, não lhe fiz nada, limitei-me a ouvi-la e a apoia-la. Acima de tudo só quero a sua felicidade, e se tu és a razão pela qual ela todos os dias da sua vida irá acordar com o seu lindo sorriso de orelha a orelha, então eu apoio-vos. Vai falar com ela. De certeza que ela não está bem e precisa de consolo, e visto que não é do meu, resta-me que vás já ter com ela e a comeces a fazer feliz.
  Ele ficou admirado com as palavras de Guilherme.
  - Realmente não merecias nada disto. Desculpa. – Despediu-se dele com uma palmada amigável no ombro.
  Foi a correr em direção à casa dela. Como será que estaria? Será que tinha feito algo? Só conseguia pensar em correr cada vez mais rápido com medo de chegar tarde demais.
...

  Estava prestes a levantar-se da cadeira para se deitar na cama quando o avista ao virar da esquina a correr em direção a sua casa. Desceu as escadas a correr, abriu a porta da frente e sem lhe dar sequer tempo de reagir ela abraçou-o fortemente. Sentindo necessidade de a consolar retribuiu o abraço depositando-lhe um suave beijo na testa.
  - Meu amor, desculpa. Nunca pensei que por me amares fosses derramar tantas lágrimas.
  Ela olhou-o bem nos olhos.
  - Cada lágrima que me vês chorar por te amar transformar-se-á no dobro dos sorrisos que terei por tu me amares.
  E sem pensar em mais nada finalmente beijou-o sem sentir qualquer culpa por ambos se amarem.

"(...) abraçou-o fortemente. (...) sem sentir qualquer culpa por ambos se amarem."

sábado, 1 de setembro de 2012

Little Love, XII


  - Tem calma! Que se passa meu amor, porque choras? – Guilherme encontrava-se agora no parque frente a frente com ela.
  Estava bastante nervosa. Não tinha preparado nada para lhe dizer, não sabia como iria explicar o que se passara entre ela e ele.
  - Tenho de te contar uma coisa.
  - Diz linda, sabes que podes contar-me tudo. – Aproximou-se para a abraçar.
  Ela recuou mais rápido do que o que queria. Guilherme, franzindo a testa, pegou-a pela mão e sentou-a a seu lado no banco nunca largando-a.
  Sentindo o coração bater cada vez mais rápido sentia-se quase incapaz de respirar.
  Olhou-o nos olhos. Como tinha sido capaz de chegar a este ponto? Como tinha sido capaz de beijar ele estando com Guilherme?
  - Desculpa. Desculpa-me a sério. Eu gosto imenso de ti, não quero que duvides disso.
  - O que estás para ai a dizer? Estás a deixar-me seriamente preocupado.
  Limpando as lágrimas inspirou profundamente o perfume de Guilherme e finalmente ganhou coragem para lhe contar o que se passara, e o que ia acontecer.
  - Guilherme, eu amo outro rapaz. Lembras-te de eu te falar vezes sem conta dele? Pois bem, é ele quem eu amo. Foi sempre ele quem me fez mais feliz apesar de ser também o responsável por todo o meu sofrimento. Foi sempre ele o rapaz que me deixa louca de cada vez que prenuncia o meu nome. Já reparaste como o simples facto de ele dizer o meu nome me deixa maluca? Só de pensar nele, na sua voz, nos seus olhos, no seu cabelo, nos seus lábios, no seu sorriso… Ele é tudo para mim.
  Guilherme não acreditava no que estava a ouvir. Como podia a rapariga que ele mais amara fazer-lhe algo assim. A rapariga a que entregara todo o seu amor e a sua confiança. A rapariga que ele sempre protegera.
  - Eu estive com ele hoje. Fui falar com ele, tive que ir falar com ele. Beijamo-nos. Percebi que não posso continuar a enganar-me a mim mesma nem a ti. A verdade é que eu quero-o mais que tudo no mundo. Não peço nem que compreendas nem que me perdoes pois ninguém merece isto, muito menos tu que sempre fizeste de tudo para eu ser feliz. Agora podes chamar-me o que quiseres, eu mereço, mas lembra-te que nunca quis que isto fosse assim.
  Calou-se. Deu-lhe tempo para ele puder absorver toda aquela informação. Guilherme não merecia nada daquilo, mas não podia ser enganado.
  Engolindo em seco preparou-se para lhe responder.
  - Não te vou chamar nenhum dos quinhentos nomes horríveis porque tu não és nada disso. A ti só tenho que te agradecer. Ensinaste-me a amar e agora ensinaste-me também a sofrer. – Começava a sentir os olhos húmidos. – Como eu já te disse várias vezes, quero a tua felicidade, e se és feliz ao lado dele, então força, quem sou eu para te impedir? Não quero que estejas comigo não me amando. E eu não seria capaz de impedir o vosso amor. Peço-te que vás agora embora por favor. Quando me sentir pronto falarei melhor contigo. Amo-te muito, nada disso mudou.
  Respeitando o que ele lhe pedira preparava-se para partir. Chegando-se perto dele para lhe beijar o rosto, hesitou e recuou, relembrando-se que talvez não fosse a melhor ideia. Apertando-lhe a mão em sinal de despedida, partiu, deixando para trás um homem em lágrimas que aprendeu que amar é também sofrer.

"(...) deixando para trás um homem em lágrimas que aprendeu que amar é também sofrer."

domingo, 12 de agosto de 2012

Little Love, XI


  Ela parou o beijo.
  Nada daquilo estava correto. Sentia-se como se tivesse acabado de trair Guilherme, e o pior é que ela tinha gostado do beijo, ela desejara aquele doce e carinhoso beijo.
  - Que se passa? Porque paraste? – Ele estava confuso. Depois do que tinham estado a “discutir” ela parara o beijo. “Será que me precipitei?”. Não, ela quisera aquele beijo, ele sabia-o.
  - Não percebes? Eu estou com o Guilherme. Não lhe posso fazer isto, não depois de tudo o que ele fez por mim.
  - Mas tu amas-me a mim, não a ele. Não podes recusar dessa maneira os teus sentimentos. Não podes recusar-me dessa maneira.
  Não conseguia respirar. “Acalma-te. Inspira, expira. Inspira, expira. Vá lá, sê forte, não te desfaças agora!”
  Ele olhava desconfiado para ela, ao ver a sua hesitação perante a situação.
  - Não posso, desculpa. – E saiu a correr de casa dele.
  Ela sabia que a sua reação não fora a melhor, mas não sabia que fazer. Ia agora mesmo falar com Guilherme e contar-lhe o que se passara, esclarecer tudo. “Acabar com ele, queres tu dizer.” Tinha de ser. Ele não merecia ser enganado.
...

  Ficara admirado com a reação dela. Ela não era do tipo de pessoa que fugia dos “problemas” se é que assim se podia chamar ao que eles sentiam um pelo outro. Não sabia onde ela tinha ido, e apenas não a seguira porque pensara que ela precisasse de espaço.
  - Agora que sei que sentes o mesmo que eu sinto por ti, acredita que farei de tudo para te conquistar minha princesa.
  Pegou na foto que mantinha guardada na sua carteira ano após ano. Traçou os contornos do rosto da rapariga com os dedos depositando de seguida um beijo numa das suas faces. Sim, ele amava-a mais do que qualquer pessoa poderia sequer imaginar.
  Ligou o computador. A sua imagem de fundo era uma foto deles os dois com apenas 7 anos, de mãos dadas. O que mais o comovia nessa foto eram os olhares que já em criança trocavam sem se aperceberem. Olhares apaixonados. Sem se conseguir conter mais, deixou que as lágrimas que “guardara” durante todo este tempo escorressem finalmente, e pela primeira vez, não sentiu vergonha de chorar, afinal, os homens também têm sentimentos.

"O que mais o comovia nessa foto eram os olhares que já em criança trocavam sem se aperceberem. Olhares apaixonados."

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Little Love, X


  Depois de várias semanas a pesquisar tinha finalmente descoberto a sua morada. Iria a sua casa naquela mesma tarde para esclarecer as coisas de uma vez por todas.
  Ainda não sabia bem como iria reagir quando o visse. Não sabia como entrar em casa dele, calmamente ou logo a atacar, não sabia como abordar qualquer assunto que fosse com ele. Não interessava. Na altura logo se decidiria.
 
  Eram 16h25 quando saiu de sua casa para ir falar com ele. Levava uns 10 minutos a chegar a casa dele. Mal chegou à morada que seria a dele tocou à campainha.
  Quando ele a viu à sua porta ficou estupefacto. Estava em tronco nu, então rapidamente foi até ao seu quarto e vestiu uma das suas t-shirts preferidas. Correu até à porta e abriu-a. Para sua surpresa quando a abriu recebeu um empurrão. Caído no chão olhou para ela. Estava chateada, via-se perfeitamente a raiva que emanava dos seus olhos.
  - Como foste capaz de me escrever uma carta em vez de vires falar comigo pessoalmente? És assim tão covarde? – Atirou-lhe a carta à cara.
  - Não é nada disso, não penses assim. Se eu não fui falar contigo é porque não fui capaz. Não é uma questão de covardia…
  - Cala-te! – Gritou ela interrompendo-o. – Já disseste o que tinhas a dizer naquela carta, agora digo eu o que tenho a dizer. – Tentava conter uma lágrima que ameaçava escorrer-lhe pelo olho. – Como tens o descaramento de dizer que te substituí? Sabes o tempo que passei a pensar em ti? Tempo que agora considero perdido. Sim, devia mesmo ter-te substituído mas não o fiz… Viste-me com o Guilherme certo?
  Ele baixou a cabeça em sinal de consentimento.
  - Pois. Porque me procuraste tão tarde? Porque não me procuraste mais cedo? Tudo teria sido diferente. Talvez nada estivesse assim. Guilherme é um bom rapaz, que me fez bastante feliz, nunca me abandonou ao contrário de ti, mas tu… Tu és tu, e eu não consigo esquecer-te. És um estúpido, um otário por me teres deixado. Achas que estava mesmo feliz? O Guilherme podia fazer-me rir, mas não me fazia sorrir, podia fazer-me gostar, mas não me fazia amar. Quem faz isso, és tu.
  Começou a chorar. Sim, sempre fora ele o tal. Sempre fora ele que a fizera sorrir e amar como ninguém foi capaz de fazer. Mas porquê? Porque tinha de ser ele que também a fez sofrer de uma maneira sufocante? Ele fazia-a soluçar como uma doida, fazia desejar o impossível.
  Ele não a conseguia ver chorar. Nunca conseguira, sempre fora esse o seu ponto fraco. Ficava sempre chateado quando alguém a fazia chorar, e agora que sabia que o culpado era ele só apetecia esmurrar-se a si próprio. Querendo que ela parasse de chorar, puxou-a para os seus braços.
  - Que estás a fazer? Não me toques, larga-me! – Gritou ela esmurrando-o no peito, uma e outra vez.
  - Acalma-te princesa, estou aqui. Não chores, ficas feia a chorar, especialmente quando choras por um parvo como eu. Nunca te devia ter deixado. Eu amo-te, sempre te amei. Por favor para de chorar. – Sussurrou-lhe ele.
  Quando ela finalmente se acalmou olhou-o nos olhos. Ele, sentindo-se vulnerável ao seu olhar, encurtou a distância entre os seus lábios beijando-a.


"(...) encurtou a distância entre os seus lábios beijando-a."

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Little Love, IX


  “Quero gritar.
  Quero gritar bem alto o teu nome. Pode ser que assim voltes.
  Mas eu sei que não. Sei que por mais que eu grite não voltarás. Sei que não poderei mais sentir o teu abraço e os teus lábios, ouvir a tua voz e as tuas gargalhadas, ver o teu sorriso e o teu olhar. Sei que não poderei reaver nada disso. Mas sinto-me bem a gritar por ti. Faz-me sentir que assim não te esquecerei pois não o quero fazer. Sei que te deixei ir, por mais que o negue, sei que deixei. Quando te vi partir, não corri atrás de ti, não tentei parar-te, não tentei fazer com que ficasses comigo. Fiquei sem reação pensando que nada do que estava a acontecer era a realidade, que não passava tudo de um sonho do qual quando acordasse e olhasse para o lado te veria a partilhar o travesseiro comigo. Nada disso aconteceu. Apercebi-me que a realidade é que te foste embora, sem mim. Depois de todas as promessas que fizemos um ao outro, partiste e deixaste-me aqui. Procurei-te, juro que procurei. E quando finalmente te encontrei, vi que já me substituíras. Não te culpo. O parvo fui eu em ter-te deixado partir. Quero que saibas apenas que sempre te quis comigo, sempre. Mas seguiste em frente, e também terei de o fazer porque sei que é o melhor não só para mim mas como também para ti.
  Já que eu não o consegui, espero que ele te faça feliz, pois tu merece-lo mais que ninguém.”

  Quando ela acabou de ler a carta ficou estupefacta. Seria mesmo dele?
  Passara um mês desde que estivera com Guilherme na praia. Passara um mês desde que pensara que o esquecera de vez.
  Guilherme fizera-a feliz de todas as formas possíveis. Não a deixara quando ela mais precisara, ao contrário dele. Como podia ser capaz de lhe escrever depois do que lhe fizera? Pior que tudo, como podia pedir-lhe que fosse feliz sem ele? Ainda por cima nem o havia pedido pessoalmente. Não, não iria ser assim tão simples. Ela iria falar com ele e confrontá-lo com tudo o que tinha.
  “Quer queiras quer não, vais ouvir-me até ao fim e ainda vais ver que não fui eu que te abandonei mas sim tu que me mandaste embora.”

"Sei que não poderei mais (...) ver o teu sorriso e o teu olhar."

terça-feira, 1 de maio de 2012

Little Love, VIII


  Chegara à praia. Apesar de exausto tinha um grande sorriso estampado na cara. Finalmente ia vê-la. Passado tanto tempo ia vê-la.
  Dirigiu-se para o ponto mais alto daquela zona. De lá veria tudo. “Dali consigo vê-la, de certeza”. Só esperava que Joana não lhe tivesse mentido. Trepou o monte. Olhou em seu redor até que viu uma rapariga, sozinha, sentada na areia. “É ela! Óh meu deus, é ELA!”. Desceu o monte a correr acabando por cair no fim. Ficou com a t-shirt suja e os braços e a cara com alguns arranhões, mas mesmo assim conseguiu levantar-se e voltar a correr.
  Estava a chegar ao início do areal quando vê um rapaz dirigir-se para ela. Parou. Decidiu ficar ali a ver o que acontecia.
...

  Estava sozinha. Guilherme tinha ido à casa de banho do café lavar as mãos pois alguns minutos antes eles haviam estado a atirar areia um ao outro. Ela não fora pois gostava de sentir a areia nas suas mãos.
  Durante toda a ausência de Guilherme, ela não conseguia esquecer a maneira de como ele olhava para ela, de como metera a mão em redor da sua cintura. Ela conseguira ver o esforço que ele fizera para não a beijar quando ela se deitou em cima dele para que ele se rendesse na sua batalha de areia. Sentia-se feliz por ele não a ter beijado pois ela não saberia a sua própria reação.
  - Então, em que estás a pensar? – Guilherme chegara e sentara-se a seu lado.
  - Em nada de especial.
  - Sabes, não tens de te conter, podes contar-me o que quiseres. Sei que nos conhecemos esta manhã, mas podes confiar em mim, a sério.
  - Bem, estava a pensar que… Que eu sou a grande vencedora da batalha de areia. – Sorriu. Adorava provoca-lo.
  - Ahah, sabes bem que eu teria ganho, tu é que te deitaste em cima de mim, e por seres uma baleia eu perdi as forças.
  - Uma baleia?  - Agarrou num monte de areia e atirou-lhe.
  - Óh, tu é que pediste, agora não te arrependas!
  E começou novamente a guerra. Só se via areia a voar.
  Ele observava-os com atenção. O sorriso que tinha na cara começava a desaparecer.
  Guilherme pegou nela e atirou-a para a água. Ela puxou-o. Ambos estavam molhados e a rir. Guilherme fez uma festa na face dela. Com as duas mãos puxou-a para mais perto. Estavam tão perto que conseguia ouvi-la respirar. Bastava que algum se aproximasse um pouco para que se beijassem.
  “Será que devo beijá-lo? Não será um erro?”. Ela não sabia que fazer. Estava confusa quanto à decisão que devia de tomar. Ela sabia que ele estava à espera que ela o beijasse pois se ela não o fizesse ele também não o faria. Seria ela a fazê-lo então. Chegando-se um pouco para a frente beijou-o. O que sentiu não foi arrependimento, foi felicidade, proteção. Guilherme envolveu-a nos seus braços.
  E ele, que ainda tinha uma réstia de esperança, esta acabou por se desvanecer. Ela esquecera-o. Chegara tarde demais. Ela já tinha um novo rapaz na sua vida. Voltou-se para se ir embora. Olhou uma última vez para eles. Correu-lhe uma lágrima pela face. E então, foi embora.

"Chegando-se um pouco para a frente beijou-o."

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Little Love, VII

  Eram 14h15. Preparava-se ela para sair quando recebe uma mensagem de um número que não conhecia. “Estou ansioso por estar contigo. És mesmo linda.”. De certeza que a mensagem era de Guilherme. Também ela estava ansiosa pois anteriormente havia tentado sair com um colega que já conhecia há algum tempo e não resultara. Ela temia que com Guilherme se viesse a passar o mesmo. Colocando o receio de parte, dirigiu-se para a porta e saiu.
  Demorou 5 minutos a chegar à esquina que dava para o parque. Deteve-se. Olhou para trás. Suspirou. Voltou a olhar para a frente e continuou a andar. Guilherme já se encontrava lá à sua espera sentado num banco. Mal a viu levantou-se. Ela só parou quando se encontrava frente a frente com ele.
  - Ainda bem que vieste, tive algum receio que à última da hora mudasses de ideias. Viste a minha mensagem?
  - Sim vi. Não sabia que era tua por isso não respondi. Bem, onde queres ir?
  - Eu não conheço bem a zona, por isso tu é que decides onde vamos. És a minha guia.
  - Ah pronto, então não te vais arrepender porque eu sou a melhor guia de todo o mundo. – Pela primeira vez em todo o dia riu-se a sério.
  - Espero bem que sim. Tens um riso lindo, contagiante.
  Ela corou. Guilherme era mesmo muito simpático. Não queria que este “encontro”, se assim lhe podia chamar, corresse mal.
  Guilherme queria pegar-lhe na mão, puxa-la para ele e beijar aqueles lábios tão convidativos. Sabia que não o devia fazer, sabia que não era o correto. Era o primeiro encontro, não podia arriscar-se a perdê-la tão rapidamente. No entanto, não lhe pareceu má ideia colocar o seu braço em volta da sua cintura. A medo foi colocando o seu braço em redor dela. Ela não o rejeitou. Era um bom princípio. Orgulhoso de si mesmo sorriu, um sorriso vitorioso.
...

  Passara a manhã inteira a procura-la. Nada. Não a havia encontrado. Será que ela se tinha mudado? Não, não podia ter-se mudado. Ele não podia perder a esperança. Voltaria a procura-la à tarde.
  Já passava das 15h30 quando decide sair de novo em busca dela. Percorreu o máximo de lugares que pôde em 15 minutos. Só restava o parque, as piscinas e a praia. Segundo uma amiga que tinham em comum, ela passava muito tempo no parque por isso decidiu ir primeiro aí. Não a encontrou. De seguida dirigiu-se à praia. Pelo caminho encontrou Joana, uma amiga dela.
  - Olá Joana.
  - Olá…
  - Eu sei que nunca nos demos muito bem, mas podes dizer-me onde está ela?
  - Não, não posso. Se o disser magoas-te a ti e a ela pois tenho a certeza que andas à sua procura para fazer algo que não será nada bom.
  - Quero correr o risco. Podes dizer-me por favor?
  - Está na praia. Mas não está sozinha. - Fez uma breve pausa. - Não te esqueças que te avisei.
  - Sim, não me esqueço. Obrigado.
  E lá foi ele, desta vez a correr. Não sabia o que queria Joana dizer com “magoas-te a ti e a ela” mas também não se importava. Ele queria vê-la mais que tudo, e se para isso tivesse que sofrer, então ele sofreria. Por ela.

" - Não te esqueças que te avisei. (...) E lá foi ele, desta vez a correr."

sábado, 31 de março de 2012

Little Love, VI

  - Aí estão vocês. Bem, temos de começar a combinar meia hora mais cedo para ver se não se atrasam! – Disse Joana. – Este é o meu primo, o Guilherme.
  - Desculpa, foi sem intenção, a culpa foi minha. – Afirmou ela. – Olá Guilherme, muito prazer.
  Guilherme olhou-a de alto abaixo. Ela era linda. Os seus cabelos castanhos, os seus olhos negros, os seus lábios entreabertos. Foi difícil não a beijar ali, naquele preciso momento. Os seus lábios estavam de tal forma convidativos que ele teve de morder o seu próprio lábio para conseguir manter a calma.
  - Olá. – Demorou algum tempo mas lá conseguiu arranjar coragem para a cumprimentar. – A Joana falou-me bastante de ti mas esqueceu-se de referir que és muito mais linda pessoalmente do que nas fotos que ela me mostrou tuas.
  - Óh, que simpático. Obrigada.
  Apesar de por fora dar a ideia de felicidade, por dentro encontrava-se triste. Por que será que não o conseguia esquecer passado todo este tempo? Por que será que com Guilherme, que era um rapaz muito bonito (mas mesmo muito!), à sua frente continuava a pensar nele? “Porque o amo. Porque sempre o amei”. Ela sabia o porquê, sempre o soubera, mas custava admitir passado todo este tempo. “Quase de certeza que ele seguiu com a sua vida. Tenho que seguir com a minha”.
  - Ouviste o que eu disse? – Perguntou-lhe Guilherme.
  - Não, não ouvi. Estava distraída, desculpa.
  - Não faz mal. Bem, eu perguntei se querias sair à tarde, para nos conhecermos melhor?
  - Sim, parece-me uma boa ideia. – Voltou a sorrir.
  - BOA! - Olhou para ela envergonhado pela sua atitude. - Quer dizer, encontramo-nos aqui às 14h30?
  - Pode ser. Liga-me se te atrasares, a Joana dá-te o meu número. Agora tenho de ir para puder sair à tarde. Até logo.
  - Adeus.
  Mentira. Apenas se ia embora porque não suportava mais estar ali. Sentia que estava a enganar Guilherme, pior, sentia que estava a enganar-se a si mesma.

"Apesar de por fora dar a ideia de felicidade,
por dentro encontrava-se triste."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Little Love, V

  Com o passar do tempo ele foi-se recompondo, ganhando novamente forças para reconquistá-la. Passaram-se meses desde a última vez que se haviam visto, desde a última vez que haviam falado. Ele declarara-se a ela tarde de mais ficando a pensar que ela não ouvira as suas palavras.
  Era sábado de manhã. Levantara-se cedo naquele dia para que tivesse tempo para se arranjar pois era hoje que a iria procurar.
  Saiu de casa. Foi em direção ao café para tomar o pequeno-almoço. Enquanto escolhia o que haveria de comer reparou numa caixa de chocolates pousada ao lado da caixa registadora.
  - Desculpe, essa caixa de chocolates está à venda?
  - Não, se estivesse estaria em exposição.
  - Bem, é pena. – Começou a matutar no assunto. – E se eu lhe pagasse dez euros pela caixa?
  - Estás bem rapaz? Esta caixa de chocolates nem seis euros foi. Se quiseres um chocolate basta pedires que eu não me importo de te dar um.
  - Não, quero mesmo todos, é para oferecer a uma amiga… Uma amiga especial. – Esboçou um largo sorriso esperançoso na cara.
  O senhor do café hesitou, mas ao olhar para o olhar, para o sorriso do rapaz, não foi capaz de aceitar o dinheiro.
  - Toma meu rapaz, leva os chocolates e põe-te a andar.
  - Obrigado meu senhor.
  E foi-se embora. Não se importava de nem sequer ter comido, agora só pensava em encontra-la.
...

  - Bom dia mãe.
  - Bom dia meu amor, onde vais?
  - Vou ao parque ter com algumas colegas, posso?
  - Claro minha filha toma cuidado.
  - Sim mãe.
  Dito isto, subiu as escadas a correr para se vestir e ir ter com as amigas. Hoje queria estar bonita pois uma das amigas tinha-lhe dito que viria um primo seu muito bonito visitá-la este fim-de-semana, e que se tivesse sorte poderia ser que ele se interessasse por ela. Enquanto remexia num baú com um papel a dizer “Em Caso De Emergência” (o baú apenas continha as suas melhores roupas) encontrou no bolso de uma camisa uma foto amachucada. Endireitando-a, já sabia quem se encontrava na imagem. Era ele. Demorou-se alguns instantes com a foto na mão. Pousando-a na mesa-de-cabeceira continuou à procura de uma roupa decente. Tentou não pensar mais na foto mas esta não lhe saia da cabeça. Quando finalmente escolheu a roupa que achou ser a “ideal”, desceu as escadas, novamente a correr e saiu de casa.
  - Bem, mais um bocado e chegavas à hora de almoço.
  - Desculpa, mas como a Joana vai trazer o primo dela e me disse que se tivesse sorte poderia ter hipóteses… Tive de me arranjar como é óbvio.
  - Vá, vamos andando senão elas matam-nos.
  - Sim, tens razão, vamos.
  E lá foi ela. Sentia-se estranha desde que encontrara a foto dele. Não pensava nele há já algum tempo, e agora simplesmente não lhe saia da cabeça. Se tinha saudades? Sim tinha, mas o orgulho era maior e ainda não tinha sido capaz de o perdoar, de esquecer as palavras do seu último reencontro. Não conseguia esquecer o quão cretino ele tinha sido. Não conseguia esquecer a sua arrogância. Não conseguia esquecer que o amava.

"Não conseguia esquecer a sua arrogância. Não conseguia esquecer que o amava."

domingo, 15 de janeiro de 2012

Little Love, IV

  Passados quase dois anos:

  Estava ela a passear quando de repente alguém a chama. Virando-se para trás viu um rapaz alto, moreno com cabelo um pouco encaracolado. “Sinto que o conheço… Quem será?” pensou ela. Ele atravessou a estrada a correr parando à sua frente.
  - Lembras-te de mim? – perguntou ele.
  - Tu… Claro que me lembro! – sorriu e abraçou-o – Como me poderia esquecer de ti? Fogo, há quanto tempo!
  - Não sei… Nunca mais disseste nada, pensei que já não te lembrasses de mim. Então mas estás boa?
  Ela afastou-se para podê-lo olhar nos olhos. O sorriso que tão depressa aparecera, havia sido trocado por lágrimas.
  - Como és capaz de dizer isso? Foste tu quem não me mandou mensagem, foste tu quem não respondeu aos meus telefonemas. Como tens o descaramento de me dizer que nunca mais te disse nada?
  Ele virou a cara. Por mais que todos os dias negasse a si próprio que a culpa de estarem assim tão distantes era dele, ele sabia que era verdade, que a culpa era dele, e dito da boca dela ainda o deixava mais em baixo.
  - Eu sei o que fiz, e juro que estou super arrependido, mas percebe que na altura pensei que fosse o melhor, pensava que já não necessitava de ti, que já não ia sentir a tua falta, mas enganei-me compreendes?
  - Como me podes pedir que compreenda? Sabes o quão mal andei, ou pensas que foi fácil para mim como parece ter sido para ti?
  - Não, não foi fácil e não acredito que o tenha sido para ti, mas depois também não me ligaste mais nem mandaste mais mensagens. Pensei que tivesse perdido o valor para ti, desculpa.
  Foi a vez de ela virar a cara. Limpando as lágrimas, ganhou uma nova força para o confrontar.
  - Se calhar teria sido melhor se tivesses perdido o teu valor para mim, assim não tinha estado a sofrer desnecessariamente. Consegues ser um grande cretino tu. E sabes o que não compreendo no meio disto tudo? – Houve um momento de silêncio – Não compreendo como pude gostar de ti. Devia ter visto que sempre foste como todos os outros que me abandonaram. Cai no erro de pensar que eras diferente, mas héy, as pessoas enganam-se né?
  Não aguentando mais, ela virou-se e foi-se embora deixando-o a reflectir sobre tudo o que ela dissera. “Ela gostou de mim? Por que não me disse? Tudo poderia ter sido diferente. Mas agora já não há volta a dar…” pensou ele, e começou a chorar. Olhou para baixo e viu uma poça de água criada pela chuva da noite anterior. Limpou as lágrimas e gritou:
  - SABES, PODES IR-TE EMBORA, MAS PROMETO-TE QUE TE VOU FAZER MUDAR DE IDEIAS, E SABES PORQUÊ? PORQUE EU AINDA TE AMO E NÃO VOU DESISTIR DE NÓS!
  Era escusado gritar, ela já se encontrava longe. Agora que finalmente a tinha visto passado tanto tempo, tão depressa a teve nos seus braços, como a deixou fugir.
  E ela já longe, sentou-se ouvindo as palavras dele. Olhou para trás e levantou-se, mas já era tarde demais, ele já se estava a ir embora.


"Era escusado gritar, ela já se encontrava longe (...) sentou-se ouvindo as palavras dele."